segunda-feira, 20 de outubro de 2008

A verdade me libertará

"O que deixamos para trás nesta vida é a lembrança de quem fomos e do que fizemos. Uma marca, não mais do que isso. Eu aprendi muito. Tornei-me sábio. Mas será que fiz alguma diferença? Não saberia dizer. Pas a pas, se va luènh.
Vi o verde da primavera dar lugar ao dourado do verão, o cobre do outono dar lugar ao branco do inverno, enquanto eu, sentado, esperava a luz se esvanecer. Muitas e muitas vezes perguntei a mim mesmo: por quê? Se eu soubesse como seria viver em tamanha solidão, suportar, como única testemunha, o ciclo interminável de nascimento, vida e morte, o que eu teria feito?
Aläis, o fardo da minha solidão tornou-se prolongado demais para que eu possa suportar. Eu sobrevivi esta longa vida com um vazio no coração, um vazio que, ao longo dos anos, não parou de aumentar até se tornar maior que meu próprio coração.
Eu lutei para manter minhas promessas a você. Uma delas foi cumprida, a outra não. Pelo menos até agora. Já faz algum tempo que sinto você perto. Nossa hora está quase chegando de novo. Tudo aponta para isso. (Logo a caverna será aberta) Sinto a vontade disso à toda minha volta. E o livro, que durante tanto tempo repousou em segurança, também será encontrado.
Eu encontrei. Enfim. E me pergunto, se puser o livro em suas mãos, será que ela o reconhecerá? Estará sua lembrança escrita no sangue e nos ossos dela? Será que ela se lembrará de como a capa cintila e muda de cor? Se desatar sua tira e o abrir, tomando cuidado para não danificar o velino seco e quebradiço, será que se lembrará das plavras ecoando pelos séculos passados?
Rezo para que, à medida que meus longos dias se aproximam do fim, eu tenha, enfim, a oportunidade de consertar o que um dia estraguei, para que, enfim, conheça a verdade. A verdade me libertará."

Kate Mosse - Labirinto

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