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domingo, 5 de dezembro de 2010

Ela x Todos os sentimentos

" Lembro-me de me perguntar certa noite, enquanto estava encolhida no mesmo canto do meu velho sofá, novamente aos prantos por causa da mesma repetição de pensamentos tristes: 'Será que você consegue mudar alguma coisa nesse quadro, Liz?' E tudo que eu conseguia pensar em fazer era me levantar, ainda aos soluços, e tentar me equilibrar em um pé só no meio da minha sala. Só para provar que - embora eu não consiga fazer as lágrimas pararem de correr, nem modificar meu desolador diálogo interno - eu ainda não estava inteiramente fora de controle: pelo menos podia chorar histericamente, enquanto me equilibrava em um pé só. Ora, já era um começo"
Comer Rezar Amar - Elizabeth Gilbert

Ela achava que sabia o que estava sentindo e poderia até dizer que tinha tudo absolutamente sob controle. Mas as coisas não aconteceram bem assim. Ela jamais imaginou que pudesse encontrá-lo naquela festa - a festa em que comemoraria seu aniversário - e ai está o primeiro engano.
A semana que se passou, depois da última conversa que tiveram pessoalmente, foi tranquila. Conversaram, falaram besteiras como sempre e, entre tantas outras coisas que foras ditas, algumas palavras ainda ecoam em sua cabeça:
"- Sabe, eu gosto de ti, gosto da tua risada, mas eu sou um cara super chato. Sou super do mundo, nada me prende. Falo isso porque as coisas que eu faço são sempre super sinceras. Quero te ver feliz, quero te ver por perto, mas esse meu jeito de ser acaba afastando muitas pessoas, magoando elas e eu fico meio assim... Sei lá, sentimentalidades de uma noite quente, de um dia atípico."
E, quando ela viu, não acreditava que o que seus olhos lhe mostravam fosse verdade. Olhou mais uma vez para ter certeza, e seu corpo respondeu de imediato. De repente tudo misturou-se dentro dela, parecia que suas pernas não seriam capazes de sustentar seu corpo, e ela fugiu. Correu. Com os olhos fechados. Trancou-se no banheiro e dizia: "Não, não pode ser verdade!". Mas era. Não soube dizer se felizmente ou infelizmente, mas era verdade, era real o que seus olhos viam. E ai está o segundo engano.
As reações que se seguiram foras as mais diversas. Ela sentia repulsa por si mesma cada vez que via seu reflexo no espelho do banheiro da festa, sentia uma dor de cabeça que jamais sentira antes, teve a impressão de estar sozinha. Teve medo. Sentiu um misto frenético de sentimentos enquanto tantas coisas passaram por sua cabeça. Lembrou-se dele, da forma como acreditou que ele era e percebeu-se, mais uma vez, que se enganara. Calou-se. Tudo a sua volta virou silencio e ela perdeu a razão, os sentidos, a consciência. Não queria acreditar. Tudo escureceu. Preto. Vazio.
Ao retornar ao salão, as amigas questionaram se havia acontecido alguma coisa, se ela sentia-se bem, pois empalidecera de repente. A resposta dela foi "Não, está tudo bem!". E foram. Caminharam. E, quando ela virou-se para o lado, a procura dos outros amigos, deparou-se com ele. A repulsa que sentia era tamanha que não conseguia olhar em seus olhos, quiçá em seu rosto, para retribuir-lhe o cumprimento. De imediato saiu daquele local sentido, novamente, todo aquele turbilhão de sentimentos espalhar-se por seu corpo. E para o banheiro, sozinha, ela correu. Viu-se frágil, desamparada, fraca e burra ao encarar seu próprio rosto no espelho. Pensou: "Eu sou a pessoa mais fácil de enganar nesse mundo." .
Incapaz de permanecer no mesmo ambiente do seu real e atual pesadelo, foi embora. Sozinha. Machucada. A cabeça baixa. O peito apertado. Foi rumo ao seu mundo - aquele mesmo dos vinte e poucos dias no escuro - porque lá ninguém poderia entrar e bagunçar tudo. Lá ninguém poderia julgá-la. Queria dormir o resto de seus dias para não ter que pensar no que vira naquela noite. Ao ficar em silêncio no escuro, a única coisa que acendeu-se e fez barulho dentro de si foi: "Ele me deu o melhor e o pior presente de aniversário!".
E, assim, ela adormeceu. Sozinha e chorosa em seu mundo: "Não quero mais nada dele pra mim!"

"Nunca se esqueça de que, um dia, em um instante de espontaneidade, você reconheceu a si mesma como uma amiga"
Comer Rezar Amar - Elizabeth Gilbert

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Ela x Ela

Ela não sabia porquê exatamente chorava, sabia apenas que algo lhe comprimia o peito e lhe deixava angustiada, entristecida fazendo com que as lágrimas brotassem espontâneamente de seus olhos e rolasse por sua face.
Sabia do quanto teve que controlar-se para que estas mesmas lágrimas que rolam agora, não rolassem na noite anterior. E como foi difícil.
Ela havia tentado, de diferentes formas, não pensar nos últimos sessenta dias, mas seu corpo pedia mais. Queria mais daquilo que ela viveu por tão pouco tempo e de forma tão intensa. Tinha consciência de que querer isso não era o certo, mesmo sabendo que quando se quer muito algo não existe certo ou errado: existe apenas o que é melhor pra ela. Definitivamente a escolha dela não era a melhor.
A semana passou de forma estranha, com um feriado no meio de tudo isso, e involuntariamente não pensou em seu último momento com ele. Prometeu a si não preocupar-se, não dedicar-se ao que não tinha merecimento. Falaram-se umas poucas vezes durante  a semana, e no ponto de vista dela era como se nada tivesse acontecido, afinal o que aconteceu não é o tipo de coisa que ela faça e decretou ser a primeira e última vez. Mas não foi.
Terem se reencontrado foi bom, por quê não seria? Conversaram sobre fatos novos, contaram histórias de suas vidas e relembraram história suas, momentos deles. Riram juntos admirando o céu escuro daquela noite.
Ela sentira-se, de certa forma, em casa por conhecer os habitantes e a atmosfera daquele lar. Tudo ainda estava exatamente no mesmo lugar. E cada coisa ali fez com que sentisse saudades... o cheiro daquele cômodo, a decoração e o som eclético. Sentiu saudade de cada palavra dita ali, das trocas de carinho, das risadas, do zelo. Sentiu saudade - e vontade - de pertencer a ele, de ser apenas dele novamente.
E enquanto zelava por ele, contemplando o escuro da noite através da janela aberta, recordou-se do quanto tudo o que foi feito e dito na última vez que se viram a havia ferido, e segurar as lágrimas foi impossível. Tentou conter-se, mas não conseguiu e deixou que silenciosamente cada uma das lágrimas passeasse por sua fase enquanto lembrava-se de seus intermináveis vinte e um dias no escuro, sem vontade de fazer absolutamente nada. Sentiu-se traída por seu próprio corpo - não por sua consciência -, pois justo ele, que havia sentido e sofrido todas as ações e reações do fim, rendeu-se a vontade da saudade. Justo ele - seu corpo - que sabia melhor do que qualquer coisa o quanto havia sido difícil àqueles dias e o quanto doía.
No retorno ao lar, ao instalar-se no silencioso aconchego escuro do seu mundo, sentia-se estranha. Sozinha em sua 'bolha' sentou-se no chão em um cantinho escondido, abraçou os joelhos e ali deixou que, aquelas lágrimas que havia reprimido, rolassem sem culpa e sem vergonha.
Estava confusa por não saber o que pensar de si mesma e da situação; porque suas convicções da última semana a haviam enganado e ela viu-se fraca e frágil. Por um longo tempo ficou ali sentada sem saber o que fazer nem como agir. Deixou que seu corpo - o traidor - expressasse dentro do quarto todo o seu misto frenético e intenso de sentimentos que não a deixaria em paz tão cedo.