segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A Família que eu escolhi pra mim

Era bonito de vê-los juntos. Todos vestidos de preto, com seus coletes e bonés bordados. Devidamente equipados com seus rádios e fones de ouvidos. Todos perfilados. Foi bonito de ver todos atentos, posicionados ouvindo as instruções da base e as estratégias traçadas. Foi bonito de ver a sintonia de todos eles.
As saídas foram frenéticas acompanhadas por correrias e gritos de "Vamô gurizada!!". Quando chegavam todos juntos, cada grupo em seu carro, devidamente fardados era de dar medo e, querendo ou não impunham respeito. A determinação, a garra e a vontade com que entraram em cada mato foi algo admirável. Do lado de fora ficava o medo, o pessimismo e a minha angustia por uma resposta. Enquanto isso o relógio não dava trégua, e andava cada vez mais rápido.
Ao final do tempo estipulado para a tarefa, cada rosto que saía do mato, independente da resposta, eu via, por baixo do suor, do sangue originado por arranhões, do barro nas botas e calças e do cansaço, meninos vestidos de homens, prontos para a próxima batalha. Eu via guerreiros incansáveis e obstinados.
Por trás de cada "cara de mau", de cada colete preto e sob a aba de cada boné eu encontrei um dos motivos que me mostraram porque tudo isso acontece, nessa família,há seis anos: junto deles - e não apenas dos guerreiros acima - não existe diferença de cor, de raça, de estilos de vida, nem de idade. Não existe o melhor nem o pior, mas exitem pessoas diferentes, existe o que foi conquistado e isso, também, é de responsabilidade de todos.
Os guerreiros que me refiro são do "Pelotão de Operações Especiais Los Mucho Locos", e nessa gincana, por estar, mesmo que de forma pequena, mas ativa ao Pelotão, me vi na necessidade de expressar o que me foi transmitido.
O resultado da gincana, mesmo que não seja o desejado, não muda, não diminuiu - pelo contrário - o que eu sinto e o que representam cada um e todos juntos pra mim: A Los Mucho Locos é a Família que eu escolhi pra mim. Amor maior, amor sem medidas, amor de verdade.



"Mucho Locos, Mucho Locos Nada vai nos separar Somos todos teus seguidores Para sempre eu vou te amar!"

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Ela x Ela

Ela não sabia porquê exatamente chorava, sabia apenas que algo lhe comprimia o peito e lhe deixava angustiada, entristecida fazendo com que as lágrimas brotassem espontâneamente de seus olhos e rolasse por sua face.
Sabia do quanto teve que controlar-se para que estas mesmas lágrimas que rolam agora, não rolassem na noite anterior. E como foi difícil.
Ela havia tentado, de diferentes formas, não pensar nos últimos sessenta dias, mas seu corpo pedia mais. Queria mais daquilo que ela viveu por tão pouco tempo e de forma tão intensa. Tinha consciência de que querer isso não era o certo, mesmo sabendo que quando se quer muito algo não existe certo ou errado: existe apenas o que é melhor pra ela. Definitivamente a escolha dela não era a melhor.
A semana passou de forma estranha, com um feriado no meio de tudo isso, e involuntariamente não pensou em seu último momento com ele. Prometeu a si não preocupar-se, não dedicar-se ao que não tinha merecimento. Falaram-se umas poucas vezes durante  a semana, e no ponto de vista dela era como se nada tivesse acontecido, afinal o que aconteceu não é o tipo de coisa que ela faça e decretou ser a primeira e última vez. Mas não foi.
Terem se reencontrado foi bom, por quê não seria? Conversaram sobre fatos novos, contaram histórias de suas vidas e relembraram história suas, momentos deles. Riram juntos admirando o céu escuro daquela noite.
Ela sentira-se, de certa forma, em casa por conhecer os habitantes e a atmosfera daquele lar. Tudo ainda estava exatamente no mesmo lugar. E cada coisa ali fez com que sentisse saudades... o cheiro daquele cômodo, a decoração e o som eclético. Sentiu saudade de cada palavra dita ali, das trocas de carinho, das risadas, do zelo. Sentiu saudade - e vontade - de pertencer a ele, de ser apenas dele novamente.
E enquanto zelava por ele, contemplando o escuro da noite através da janela aberta, recordou-se do quanto tudo o que foi feito e dito na última vez que se viram a havia ferido, e segurar as lágrimas foi impossível. Tentou conter-se, mas não conseguiu e deixou que silenciosamente cada uma das lágrimas passeasse por sua fase enquanto lembrava-se de seus intermináveis vinte e um dias no escuro, sem vontade de fazer absolutamente nada. Sentiu-se traída por seu próprio corpo - não por sua consciência -, pois justo ele, que havia sentido e sofrido todas as ações e reações do fim, rendeu-se a vontade da saudade. Justo ele - seu corpo - que sabia melhor do que qualquer coisa o quanto havia sido difícil àqueles dias e o quanto doía.
No retorno ao lar, ao instalar-se no silencioso aconchego escuro do seu mundo, sentia-se estranha. Sozinha em sua 'bolha' sentou-se no chão em um cantinho escondido, abraçou os joelhos e ali deixou que, aquelas lágrimas que havia reprimido, rolassem sem culpa e sem vergonha.
Estava confusa por não saber o que pensar de si mesma e da situação; porque suas convicções da última semana a haviam enganado e ela viu-se fraca e frágil. Por um longo tempo ficou ali sentada sem saber o que fazer nem como agir. Deixou que seu corpo - o traidor - expressasse dentro do quarto todo o seu misto frenético e intenso de sentimentos que não a deixaria em paz tão cedo.