Ela não sabia porquê exatamente chorava, sabia apenas que algo lhe comprimia o peito e lhe deixava angustiada, entristecida fazendo com que as lágrimas brotassem espontâneamente de seus olhos e rolasse por sua face.
Sabia do quanto teve que controlar-se para que estas mesmas lágrimas que rolam agora, não rolassem na noite anterior. E como foi difícil.
Ela havia tentado, de diferentes formas, não pensar nos últimos sessenta dias, mas seu corpo pedia mais. Queria mais daquilo que ela viveu por tão pouco tempo e de forma tão intensa. Tinha consciência de que querer isso não era o certo, mesmo sabendo que quando se quer muito algo não existe certo ou errado: existe apenas o que é melhor pra ela. Definitivamente a escolha dela não era a melhor.
A semana passou de forma estranha, com um feriado no meio de tudo isso, e involuntariamente não pensou em seu último momento com ele. Prometeu a si não preocupar-se, não dedicar-se ao que não tinha merecimento. Falaram-se umas poucas vezes durante a semana, e no ponto de vista dela era como se nada tivesse acontecido, afinal o que aconteceu não é o tipo de coisa que ela faça e decretou ser a primeira e última vez. Mas não foi.
Terem se reencontrado foi bom, por quê não seria? Conversaram sobre fatos novos, contaram histórias de suas vidas e relembraram história suas, momentos deles. Riram juntos admirando o céu escuro daquela noite.
Ela sentira-se, de certa forma, em casa por conhecer os habitantes e a atmosfera daquele lar. Tudo ainda estava exatamente no mesmo lugar. E cada coisa ali fez com que sentisse saudades... o cheiro daquele cômodo, a decoração e o som eclético. Sentiu saudade de cada palavra dita ali, das trocas de carinho, das risadas, do zelo. Sentiu saudade - e vontade - de pertencer a ele, de ser apenas dele novamente.
E enquanto zelava por ele, contemplando o escuro da noite através da janela aberta, recordou-se do quanto tudo o que foi feito e dito na última vez que se viram a havia ferido, e segurar as lágrimas foi impossível. Tentou conter-se, mas não conseguiu e deixou que silenciosamente cada uma das lágrimas passeasse por sua fase enquanto lembrava-se de seus intermináveis vinte e um dias no escuro, sem vontade de fazer absolutamente nada. Sentiu-se traída por seu próprio corpo - não por sua consciência -, pois justo ele, que havia sentido e sofrido todas as ações e reações do fim, rendeu-se a vontade da saudade. Justo ele - seu corpo - que sabia melhor do que qualquer coisa o quanto havia sido difícil àqueles dias e o quanto doía.
No retorno ao lar, ao instalar-se no silencioso aconchego escuro do seu mundo, sentia-se estranha. Sozinha em sua 'bolha' sentou-se no chão em um cantinho escondido, abraçou os joelhos e ali deixou que, aquelas lágrimas que havia reprimido, rolassem sem culpa e sem vergonha.
Estava confusa por não saber o que pensar de si mesma e da situação; porque suas convicções da última semana a haviam enganado e ela viu-se fraca e frágil. Por um longo tempo ficou ali sentada sem saber o que fazer nem como agir. Deixou que seu corpo - o traidor - expressasse dentro do quarto todo o seu misto frenético e intenso de sentimentos que não a deixaria em paz tão cedo.
Um comentário:
ah.. o tempo dirá o que é verdade... ah, os clichês...
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